abril 15, 2016

Ontem não gostava, hoje quem sabe...

Quem não se lembra de estudar poesia no secundário? Eu lembro-me e bem... admito que não era a minha matéria preferida. Sempre associei a poesia a alguma tristeza e desalento, levando a que nunca sentisse empatia para os ler.
Recordo-me de alguns poemas que, mesmo não me identificando com o conteúdo, ficaram na memória e, recentemente, tenho-os recordado a partir de um cenário ou de alguma situação específica. 
Sem me aperceber, comecei a ver a poesia com outros olhos, olhos de quem, mesmo não se identificando por vezes com o conteúdo, consegue reconhecer a beleza da métrica e a musicalidade das palavras...

Gosto de poesia? Hum... acho que é um amor que começa a despertar em mim...

Sophia de Mello Breyner Andresen lembra-me o mar...

Deixo-vos um poema dela que, mesmo abordando a morte, transparece luz e vida!

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta 
Continuará o jardim, o céu e o mar, 
E como hoje igualmente hão-de bailar 
As quatro estações à minha porta. 

Outros em Abril passarão no pomar 
Em que eu tantas vezes passei, 
Haverá longos poentes sobre o mar, 
Outros amarão as coisas que eu amei. 

Será o mesmo brilho, a mesma festa, 
Será o mesmo jardim à minha porta, 
E os cabelos doirados da floresta, 
Como se eu não estivesse morta. 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dia do Mar'

AV49

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